quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Do chão tudo levanta
e cresce pelos rastros de terra
em movimento vertical
estirando cada fibra-raiz
e laços da carne
a sua incontornável espessura
(levantar-se são gotas de sangue
ou lágrimas que caem
dos olhos e das pernas)

O corpo, portanto, sai do chão
e por isso
não é possível negar
que temos os pés colados à terra.
O corpo não é uma máquina
O corpo não é um sonho
O corpo não dorme com outro corpo
por mais que a pele se dissolva
na quente escuridão do asfalto.

Porque tudo sai do chão
Porque tudo se ergue do frio sólido
como o úmido dos lábios
a voz gritada ao esquecimento
ou o tempo colocado em calendários
é que os nomes são desimportantes.
E já não te digo 70 vezes
quando acordo
ainda que pense as mesmas 70 vezes.

Aquilo que se ergue é incerto e passageiro
duplo
assim são as árvores, as ferramentas
o que se faz entre o branco
e o branco
e o branco
e o branco
que não sou eu, mas a casa
Quatro paredes que envolvem
com sua língua rosada
aquele que nela busca um nome, lar.

As unhas pintam e rasgam
as mãos a que pertencem
O tempo esconde com areia
o movimento oposto que reage
Levantar é uma dúvida
e o couro jamais sera couro
enquanto não levarem o boi.