quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Grandeza

A palavra falada
é a grandeza mais forte
atinge a dimensão
que tem as pequenas coisas:
o pelo dos braços
a dor dos sapatos
a ternura dos lábios

Meu avô sempre contou
sobre as asperezas do barro
hoje vejo que o barro
é mera palavra
constrói quando tratado com respeito
mas
se
mal usado
rasga a pele
apodrece os olhos
enrijece os dedos até
que sumam as caricias que os dedos têm

Somente a palavra é infinita
porque é representação.
Não há felicidade absoluta
o universo é menor que uma aldeia
a dor, o silêncio, o amargo do sangue
angústia
amor eterno amor
tudo é ideia
teatro
palavra:
três silabas guardadas
entre os lábios
a língua nos dentes
e os dentes nos lábios

Hoje sou poeta
Todos somos,
estamos vivos!
não porque escrevo versos
mas porque tento sentir
as delicadezas do ínfimo
o meu silêncio necessário
as palavras esquecidas no céu.
E é quando vejo uma delas
que busco seu abraço
na esperança de encontrar
um sentido desnecessário

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Um sonho

Meu sonho é um homem morto
um senhor de barba
um fraco dos ossos
que caminha a esmo
procurando em estradas vazias
os infinitos caminhos sem fim.

Da sua boca aberta de homem
que é como a boca de um rinoceronte
escorre a solidão das horas
a fecundidade enrijecida
que jogou sua cria
no mar de outros.


A imagem do que sonhei
é covardia.
Um corpo que grita entre a boca
e a perna.
Tudo ali é rubro
tudo ali é mar
e esse mar é rubro
porque o sangue do meu sonho
é um casamento
que vasa da pele
e tingue o cabelo
com dor e sal

Sonhei um senhor que canta o testamento
a vida como palco vazio
e por aqui já não correm cavalos:
É Deus invocado no sertão
vermelho porque nada.
Não há carne que esquente
não há cor que derreta
não há ferro que fure

Um punhado de areia
guardado entre as mãos

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Oceano

"Escrever um poema
é como apanhar um peixe"
Adília Lopes
Tentei pintar de azul
o vazio da minha alma
na esperança de que os peixes
um dia a completassem

E sentisse a espuma das ondas,
barcos coloridos sobre a enseada
deslizando em sentimentos
que jamais conheci
espaços vagos do meu infinito

No peito imaginei o oceano
nos pés sonhei com a areia
fina, quente
vidro em pura simplicidade.

A ternura dos corais
desejei que entrasse pelos olhos
e pela pele escura
o caminho que fica com a partida
Saudade

Em vão tentei
colorir o que não é tela
o corpo que não se arrepia
mas minha reza
ausente de fé, vermelha e velha
nem a dor transformou.