sexta-feira, 25 de julho de 2014

Para Suassuna

"Não sei, só sei que foi assim" - Auto da Compadecida
"Esse fogo não tem quem apague, Dinís. Esse já está queimando há muitos anos"
- Romance d'a pedra do reino 


Escuta meu velho,
Aqui, dessa triste cidade acinzentada
Pop-rock, moderna metrópole de status americano
procuro um canto de silêncio.
Para lembrar que um dia
abri umas folhas com seu nome
na busca de uma imagem distante
quase apagada das vidas daqui:
a terra rachada, a lâmina na mão, o brilho
a ternura afiada. Os reinos do povo, a morte, o medo, o mito cor de cobre.
E pensei ter encontrado tudo, meu velho
porque frente a frente com as folhas que tinham seu nome
vi meus avós, minha tia, o parto da minha família
a missa de sétimo dia. O caminho do cacto, o ressecado choro do palhaço.

E como gostei, Ariano, daqueles tempos de ser herói, um jeito bambo, engraçado
elegante, vadio, caminhando como cavalo pela terra seca.
E hoje, depois de tudo isso?
Meu velho, uns  dias chorei e em outros ri.