quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Em busca de si

Como uma faísca perdida
no interior do seio
um lobo que crava as unhas na terra
a procura de si mesmo
me encontro em busca da imagem
perdida no ventre
na brisa
no mar fecundado da mente,
estrelas distantes de brilho negro
apagados pela nuvem.

Meus olhos labirintos atrás
das moedas e histórias
contadas na beira da praia
Dois glóbulos translucido que guardam
a memória da terra e do som.
Geleia porosa de tempo
na dúvida entre o ouro irradiado da luz
ou as flechas do cosmo.

Ah, minha morte
nascida a cada escorrer
da tinta do pincel pela folha fina.
Eu frente a frente com o espelho
dos dias da alma,
tocando com falanges sutis
a coluna vertebral
o corrimento gasto
que há em cada ser vivo.

Meu comportamento como lupa
imigrando a imagem invisível
para um túnel de compreensão
No inicio, no nada
no fim do breu.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Pés que pisam a terra

Que não seja essencial
a carne e a matéria
o objetivo nítido
do ser. A palavra
escondida da multidão
de cegos excitados.
Os labirintos do mundo
em que se passam
longas procissões repetitivas.
O fosco dos espelhos
lágrimas quentes de olhos tristes

Pois assim serão salvos os perdidos
no deserto de si
a areia do mundo
os gritos caninos da experiência
moedas espalhadas pelo bolso
o primeiro beijo, o cheiro roxo
do corpo entregue ao eclipse.

Pela sensações dos misteriosos nostálgicos
que buscam o intimo brilho humano
diluído na água e no marasmo.
Os que cantam a memória acrílica,
divina
das flores borbulhadas no lábio
Pelos que vivem qualquer coisa
que não seja uma coisa
Aos que buscam o múltiplo
do sozinho no que é murcho
frouxo, espirito extraído
ao longo dos símbolos encadernados.

Por tudo que se encontre
no grão
na rua
no mar
na lua
na liberdade
que escorre pelas asas

E talvez ninguém precise desses pés
que pisam a terra.
os olhos globulares de pedra.
a frágil mucosa do corpo.
As ondas, os chifres, o ferro
o cabelo, a estima, a desfortuna das regras da carne

sábado, 12 de outubro de 2013

Imagens

Sonho com as imagens
da volúpia de outros corpos.
O mar profundo de ondas
gritando pelo tempo
ancorado no interior
das ilhas da mente.
Uma pessoa que não vejo
e me envolve no licor
escorrido de suas vértebras
flácidas
como o medo dos animais
e das ruas durante a noite.
Som e grito se somam ao
íntimo das esperanças estreladas
tatuadas no olho-memória
das noites vermelhas de uma chuva
que descolore meus cabelos com a fúria
do choro rasgado
E eu mordo minhas ancas
a procura da experiência
da lua
glóbulo amarelo fugido
do continente branco
para se esconder no seio
doce de terra.
Cor híbrida e versátil
Descolonizadas de si
mergulhando livre no leite
de sangue escorrido
entre suas pernas.
Eu sonho a experiência da vida
liberta do Ser
o negro que explode o tecido
de ceda clara que lhe envolve a cabeça
o desejo, sim, o desejo virtuoso e sem fim
de fundir-me com a madrugada
num corpo translucido de magia e beleza

sábado, 5 de outubro de 2013

O morto

Nunca desejei que ratos
me roessem a alma.
Imaginava que a realidade
fosse feita de matéria dinâmica
viva, própria,natural.
Os copos de água
não passariam de água
as estrelas seriam somente estrelas
e a música um eterno grito
a espera do encontro em mim.
E devo gritar nesse momento?
Jorrar aos ventos do ser
todo meu medo?

Um urubu cego
entre as flores da galáxia é
a fruta roxa de meu peito.
Raio escuro que tinge a manhã de domingo
atravessa meu olho amarelo.
Canta meu nome
canta, canta
como quem corre pela rua
quatro de outubro
numa noite gelada
ao silêncio da voz fétida.
Sou palpável? Sou vivo?
a imagem projetada pelo rio
é Minha experiência?

Escrevo pela felicidade
que exalam as rosas,
com seu cheiro e cegueira.
Sua nitidez falsa de prazer
nascida na terra podre
que piso com os pés.
Estar sendo o que sou
não significa que o fui
no segundo passado
a leitura do pensamento

Imaterial, colérico e duro
dono de posse nenhuma
alegre como a vaca atolada
na chuva que cai sobre a fazenda.
Perdido na
da Avenida da Glória.
Vazio a transbordar nuvens
estrangeiro comigo
Nome desconhecido de profissão nenhuma.