sábado, 23 de março de 2013

Poema para Paulo Leminski

O Leminski
disse que é poeta
que tem bigode
que faz musica
fuma cigarro
e mora com a Alice.
Disse que está de dentro pra fora
e de fora pra dentro.
que é viril
tem sangue na veia
e que nunca nasceu pra ser lido.

Disse
que é distraído
não tem memória
e já não tem medo
da morte.
Disse também o Leminski,
que é um belo filhadaputa,
que nasceu no Paraná
e conheceu o Itamar

Esse Leminski
(cachorro louco e bandido)
já disse de tudo.
De formiga de missa
da pressa preguiça e pele mestiça.
Do inverno, do claro do raio.
De tudo que corre no vento:
a lua o vicio
e o tempo.

sábado, 16 de março de 2013

Amor

Agora vejo que de mim
florescem pétalas
e dessas pétalas desabrocham
o cheiro das mais belas flores.

As flores dos que descobriram sobre o amor
e conhecem as minucias
da paixão,
da argucia dos dedos deslizando pelas costas
(que correm e deixam marcas
como um rio de diamantes
como um sol de domingo, como
o êxtase do sexo, o êxtase do beijo
o êxtase da noite e da eternidade)

De mim e de meus olhos,
brilha o mistério da poesia,
reluz a luz clara da lua branca
e a lembrança das tardes em cinemas.

Da boca
soam os gemidos das ondas arrebentando
a beira mar, trazendo conchas novas
as crianças que brincam na areia

De mim, do meu corpo,
do todo que não sou,
brota a eternidade,
os frutos das mais belas das árvores,
a aquarela das folhas com poemas,
as cores da alvorada
e dos jardins que estampam
suas roupas floridas.

– Não sei o que sinto.
Só sei que descobri o amor.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Ouro negro

Da pele escura. Negra
desabrocha uma flor.
Transpiram luas cheias
sons de atabaques
e outros tons pretos,
negros, pardos e quase pretos.
Regozijam do risco na terra
do sangue, do sonho das avós
que escorreu pela pele
(aquela antiga pele preta,
relembrada nas vestes
da bossa dos sambas
e dos soares bandolins).

Da pele e dos pelos
crespos, cravados na serras
correntes.
Falam as vozes da folia
dos cantos de São Salvador
das passadas
nos paralelepípedos de terreiros.

Do dia, do todo dia
da flor que desabrocha preta
e em peso,
prendendo-se numa esperança
de que todos os tamanhos
se pintem e sambem
de negro.
(como se pinta a manhã
aos passos ritmados
das morenas que dançam
como a lua se pinta no céu
e o céu se pinta no sol).

Floresce uma pétala
que é igual
-finalmente igual-
a pétala loura
do louro jardim
em pétalas de ouro negro