domingo, 27 de janeiro de 2013

Do tamanho dos sonhos


Ser grande é ir além
depois da miopia
das ampulhetas europeias
e das noites árabes.
É ouvir o cantar da cidades
ou os diálogos calados do universo
(que se escondem
em tristes olhares de casais infelizes)

Ser grande é passar o espelho e seu reflexo
para ir a outra face: escura, úmida,
solitária, como tardes frias de outono.
É ser fantástico,
cego pela magia ofuscante da lua
(que é como a ternura oriental,
tênue entre os limites do amor
e a luxuria de pétalas delicadas)

Para se ter grandeza é preciso
deixar o que se deve e
suprimir em mãos, punhos,
lutas diárias o infinito
-o outro, que é além e alheio.

Busca-se a grandeza
como se caminha no deserto
e folheia-se livros.
como se sentado atrás das telas de cinema
por duelos indubitáveis
contra inimigos íntimos.

Busca-se a grandeza
[enquanto o mar busca a terra]
até que impossível seja a rotina.

domingo, 6 de janeiro de 2013

folhas virgens de um livro amarelado

Porque agora você olha pela janela do quarto
e vê no jardim abaixo da sua sacada
que algumas flores murcham enquanto outras
desabrocham por pequenos botões sisudos.
Te digo:
da vida lembremos os sentimentos
que são como flores amarelas e saurás livres,
como as rosas novas desbrochando em folha ainda virgens
dos livros de Guimarães, ou do jardim de vozes que fez Violeta Parra.

Lembremos do amor, pois ele não é efêmero,
não se apaga feito o fogo de Cortázar.
não se esconde entre lençóis da cama e ternuras da noite,
que são como a vida dos idosos:
cheias de mistérios apagados na pureza da pele,
nos longos e diáfanos fios de cabelo
na beira de riachos que
lavam em intempéries eternas de relógio as lembranças.

Dos versos de Drummond façamos nossas memórias
dos quadros de Monet, dos chás tomados a tarde
do bucolismo de Bandeira.
Levemos o amor ao sentido literal, cognitivo e semiótico
que pouco a pouco erguemos, tal ergue-se um poema Cabralino

Nesses tempos de viver, só nos resta o amor
que se nega a esfacelar desalmado
com beijos entre estrelas distantes.
A nós, somente o essencial, que chega aos olhos como a primavera
batendo na janela enquanto você olha ao jardim.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Lirismo em tempos de amor

Digo em poucas palavras:
para que fique claro e brilhe em raios de ouro feito o sol,
que seja como botões de flores em um vestido colorido
e frevos embalados pelas orlas coloridas de Iemanjá.

Digo do amor. Apenas e somente do amor,
não outros demônios.

Suas letras cursivas e toques de bossa
cores, babados bordados em tecido, percussões de caxixi
(que são como a unica felicidade
do mundo)

Das palavras destinadas aos lábios
e dos diamantes que brilham nos olhos dos que amam
dos abraços que se enlaçam para surgir na solitude
de roupas brancas coaradas ao sol.

Falo com leveza desse amor obscuro. Com ele
faço o possível para que seja a vida um livro de prazeres
Porque é o mais importante,
– irriga em gotas de éter os corações peregrinos,
que são lagoas de quereres despejando a tristeza atrás
dos pequenos palpitares batidos na saudade do dia.

Em suma e resumo narro aos ventos:
Quero viver o amor, nada mais adiante,
afinal não existe remédio ao que não se cure com ele.