sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Da varanda do quarto

Belo é o vazo roxo
com uma planta de pétala
delicada
que ela põe na janela
quando a abre cedo
(umas 7 ou 8 da manhã,
rotineiramente)

E aquela luza clara
que bate na parede ainda mais clara
e rebate na outra parede
e na outra
e na outa
para depois atingir
seu cabelo
cor de avelã
que, depois da luz do sol,
fica ainda mais bonito

Bela é a sua voz calma
e o florido do seu vestido
sua orelha que não usa brincos
sua unha sem esmaltes
e o picadeiro de enfeites
preso no teto do seu quarto.

Ela sem sono
lendo um livro na cama
ou dançando no ritmo da sanfona.
ou cochichando com os sonhos
ou olhando pro céu noturno
e brincando com a lua
pro tempo esvoaçar logo
e deixar que a manhã
a torne ainda mais bela.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Café solúvel

Sandra dos olhos escuros
me beija na boca
com a sua boca
que é fina e delicada
como o traçado raso
dos bons desenhistas

Me acorda e abraça
com seus braços finos
de boneca de pano
-que por ser de pano
tem uma magia desconhecida-

Sandra meu sonho e céu.
Realça sua estrela,
que para mim é um sorriso brilhante
daqueles que apertam o rosto,
e tiram o espaço do outros.

Agora me olha e me diz
aqueles poemas que você faz todo dia
sem se dar conta,
algo bonito como:
vamos ao cinema?
ou
quer tomar um café hoje a tarde?

E vista aquela roupa
que eu tanto gosto e me lembra
os pés de roseira da casa de sua avó
ou as ilhas gregas cheias de liberdade.
Que eu nunca fui, mas tanto imagino

.Porque você tem um quê
de ciranda e fogueira
e festa e amarelinha
e jogo de corda.

Sandra, agora passa a mão em meu cabelo,
é que quero me sentir acolhido
nesses últimos minutos
enquanto sonho que a gente toma sorvete na praça

É que o que vem por ai
não é tão bom.
-Sabe porque não é bom?
porque você fica e eu vou, Sandra,
a enfermeira quem me disse,
na verdade a ouvi falando com o médico
"está em coma profundo, foi uma pancada forte. Poucas chances"
Ela não sabe que eu ouvi,
assim como você não sabe que eu falo.

Mas Sandra, não pense que a culpa é sua
eu só queria te dar um abraço
porque fiquei surpreso
de te ver na calçada sozinha as nove horas da manhã.
Fique calma e não chore. Isso, não chore.

Ainda bem que você não sabia do amor
e só tinha por mim a ternura de eternidade
que trazem os amigos

Não Sandra, a culpa não foi sua
eu que não vi o carro
e deixei que a beleza do sol
tapasse as cores do farol.
foi tudo muito rápido
muito veloz, diferente do que te sinto.

Agora me abraça menina
e deixa seu cabelo preto cair em meu ombro
antes que eu vá
e você fique
Diz algo bonito, que me apaixone e seja gostoso
como aquela pipoca que comemos na semana passada.

Sandra, dizem que quando um que ama morre
vira uma estrela no céu,
por isso tem tantas estrelas o céu.
Nessa noite noite você olha pro céu
e me acha,
porque vou brilhar, Sandra
e será um brilho especial,
mais rosado


(e tudo termina com as lágrimas escorrendo pelos cílios)

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O sorriso de ontem

Na beira mar vi a lua.
E aquele corpo brilhava
como se todo desejo
e os prazeres do carnaval
em ti estivessem bordados.

Vi a lua e percebi
que o mar ama a praia
tal os pais aos filhos.
Porque ela estava alaranjada
e seu brilho era de mel
ou se não me falha a memória
de doce de caramelo

E naquela noite jovem,
que tinha os olhos
escuros de jabuticaba
e o cabelo desgrenhado na crista das ondas,
senti que o céu me abraçava as costas
e em minhas mãos se entrelaçavam as estrelas.
Como se todos os tempos fossem de sonho
e pelo lábio inferior
corressem beijos macios de plumas
ou travesseiros de algodão.

Em meu peito
gritava calmo o amor
entre o céu e o mar,
tudo meio malemolente
cheio de perdas e ganhos
a lembrar um conto de Cortázar que aprisiona
pelos sussurros expressados nas palavras.

Não sei o que se foi,
nem mesmo pretendo.
Porque hoje acordei
e na borra do meu café
existia um sinal de ternura