domingo, 30 de setembro de 2012

Do amor

Página de livro
abraço de ternura.
Meu coração é um poema
seu beijo a escritura.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Atrás do quadro negro

Benedita
tinha pintada
de preto
a tez que é a pele e os pelos,

Os olhos
na lua e as luas
de mel, como luares
estampadas
nos lençóis vermelhos
do lábios

E gostava de beijos
e abraços
carinhos
e os abracadabras
que tinha o dia-dia do mundo

Via magia
e via-se
nos espelhos
das ruas, nas quinas de si
nas canções e nos cantos
nas gelatinas e costuras
nos menores e nas maiúsculas

Em cotas
o cortejos
xotes forrós
valsas versos e outras
prosas
era Benedita, a menina,
(ainda que não)
a mais linda

Mas teve a noite sem silvos,
depois do passar veloz dos ponteiros
de silêncios descompassados,
aquelas que se confunde o som
do coração
com o dos estatelares dos passos...

Foi quando viu Benedita
que já era mulher
e um tanto sofrida
tendo a sina
de não ser cisne
mas sim uma coisa
pobre e podre
quase perto
dos buracos negros
de quem nasce
tinturado

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Feitio

Não importa o que se faça,
se corte de frio
fiapo ou descasco a faca.
Pois só o que fica
é o que passa

sábado, 22 de setembro de 2012

Poema violento

Amor é arma
sem rima nem mira
que dispara
tiro certeiro,
contido das incertezas,
e dos calibres.

Amor é a arma.
Amar é a bala
que atinge
de pronto e deserto as esguelhas
mas nunca erra.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Ode as plantas

São de flocos de amor
as pétalas das flores.
De felicidades
cores
cordéis
cordões e
corações bem amados
as fantasias colibri do pólen

São as cores:
os pingos de arco-íris
derretidos nas tardes quentes
que escorregam entre chuvas
e cílios de recém-nascidos

De minucias
e sementes sonhadas é
a vida das pessoas
e, ainda além,
a das flores

E melhor é:
o titilar do relógio
o acordar da manhã
e o canto dos canários.
Quando se é estampado
nos tecidos dos dias
as estampas primaveris

Maior é o amor
maior é o aroma
maior e a mais
a rosa;
quando em tarde arrebol
mistura seu cheiro
com a leveza do ar
e se pode confundir
se são os céus e os sons
sensações do mundo
ou relentos de calmaria
espalhados pela calçada.

Como o ipê
a desgarrar-se
de sua copa
nas tardes de outono


segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Aos escritores latino-americanos

Corre no ventre desta terra
um rubro vermelho de pranto
carregado em longos choros
que escorrem por veias torturadas

Mas que (ainda)
perdido entre janelas e labirintos
resiste sofrego
com brilho estrelado
sob os estalos de fogueira,
porque se nega
--como todos os fogos--
aos corrimentos
de ampulhetas e areia

Corre pois entre os pés da Patagônia
e os cachos colombianos
as histórias mais vividas
de fatos fantásticos
que a realidade tenta,
mas não imita

São,
se não seus
os tempos deveras ternos
desarranjos, fábulas
e os murmúrios
de canções desesperadas

E trazem também em tréguas
e entregas de amor
o ciciar dos sonos cansados
e regressos das calmarias oceânicas

É, sim, nos abraços partidos
e ternuras roubadas
que resiste cada verso
gravado no seio
do amuleto andino

Um amuleto estampado
com a rubi esperança
de ser leve como as borboletas
e livre qual os peixes dourados

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Das menores alegrias

se tudo é pequeno:
pingos, brilhos pirilampo
e os minutos são miúdos
(porque estão atrás das horas,
sempre assim,
no plano-relógio em segundo)

se sim; se não
senão, não sendo.
Haja o que houve
e volte amanhã
para o passado
de hoje

domingo, 2 de setembro de 2012

Sinal de eternidade

*a Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

Drummond
é de ti
ou do mundo
a sensibilidade clara dos cabelos brancos
e a calma dos óculos?

As pedras
    rosas
    semáforos
    jóias, Josés
    e Jotas (que nem deviam aparecer por aqui)
São de ti
do corpo
ou do mundo?

É a poesia uma etiqueta
colada na camisa do poeta,
na semântica das palavras?
-palavra de origem indefinida
não se sabe se dos longes de Itabira
ou de dádiva divina-.

É a vida, mira certeira
na rima metafísica
de servidor público
que, sentado em poltrona
boceja como padecendo
no brejo das almas?

Não sabemos Drummond
nem sequer os porquês
das perguntas sobre poesia,
nem mesmo o que ela pode
ou então
o que será:
se versos de relógios
ou lições de casa,
se um fazendeiro
um lutador
ou um aprendiz a contar
seus amores antigos