terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Cólera

Tem tempos que se esavaziam
e ficam sozinhos. Na crista do vento
no cinza da chuva
e no voo dos passaros

As folhas se secam
e nessa secura também
somem outros tantos desconhecidos
(porque tudo parece de cólera,
Em manchas pretas
de tinta ou de sangue
que, ainda que não fossem para isso,
borbulham dentro de cadernos)

Em tempos de choro,
que nem as lágrimas escorrem,
todo dia - ainda que alguns sejam felizes-
é uma folha de caderno vazia.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Sobre os porquês da literatura

Eu gosto das palavras
porque cada uma tem
um desenho, um cheiro
e um calor diferente dos tidos no abraços

Me lembro
que quando era criancinha,
-bem criança, sem saber contar
pros outros os causos do mundo-
que eu olhava pela janela
e via que os pássaros batendo as asas
e essas asas abertas pareciam uma letra.
Ai eu virava para minha mãe e dizia
que as asas dos pássaros eram como letras
e a mãe dizia que sim,
que pareciam mesmo.

(Hoje sei que minha mãe também
tem um olhar doce
e fala coisas tão sensíveis
que nem mesmo a literatura conhece.
Acho que quando ela ficar doente
com os cabelos tingidos de branco
e seus olhos se fecharem pouco a pouco
até sua visão ser o completo oposto da cor dos cabelos
ela vai virar uma estrela, ou talvez uma letra.
Sabe quem um poema de algum poeta
que fale bem das mães).

Hoje não gosto da vida,
e nem de muitas outras coisas,
por isso escrevo: para chegar a algum caminho.
Um caminho que não procuro, que desconheço,
mas que me sinto no dever de encontrar.

Porque as letras são da vida
e tem um cheiro agridoce,
meio de mel,
de amor,
mais ainda de esperança
(que é uma sensação viva).
E são ainda mais prazerosas
quando presas em um texto de um romance na prateleira,
ou quando se libertam das pessoas
pelo estalar da língua no dentes
a propor melhoras e outras ternuras

E é por isso. Por esse amor desmedido e real
que trago estampado no peito
uma tatuagem invisível,
um compromisso sem contrato:
o de não usar a vida às palavras
mas as palavra à vida

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Da varanda do quarto

Belo é o vazo roxo
com uma planta de pétala
delicada
que ela põe na janela
quando a abre cedo
(umas 7 ou 8 da manhã,
rotineiramente)

E aquela luza clara
que bate na parede ainda mais clara
e rebate na outra parede
e na outra
e na outa
para depois atingir
seu cabelo
cor de avelã
que, depois da luz do sol,
fica ainda mais bonito

Bela é a sua voz calma
e o florido do seu vestido
sua orelha que não usa brincos
sua unha sem esmaltes
e o picadeiro de enfeites
preso no teto do seu quarto.

Ela sem sono
lendo um livro na cama
ou dançando no ritmo da sanfona.
ou cochichando com os sonhos
ou olhando pro céu noturno
e brincando com a lua
pro tempo esvoaçar logo
e deixar que a manhã
a torne ainda mais bela.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Café solúvel

Sandra dos olhos escuros
me beija na boca
com a sua boca
que é fina e delicada
como o traçado raso
dos bons desenhistas

Me acorda e abraça
com seus braços finos
de boneca de pano
-que por ser de pano
tem uma magia desconhecida-

Sandra meu sonho e céu.
Realça sua estrela,
que para mim é um sorriso brilhante
daqueles que apertam o rosto,
e tiram o espaço do outros.

Agora me olha e me diz
aqueles poemas que você faz todo dia
sem se dar conta,
algo bonito como:
vamos ao cinema?
ou
quer tomar um café hoje a tarde?

E vista aquela roupa
que eu tanto gosto e me lembra
os pés de roseira da casa de sua avó
ou as ilhas gregas cheias de liberdade.
Que eu nunca fui, mas tanto imagino

.Porque você tem um quê
de ciranda e fogueira
e festa e amarelinha
e jogo de corda.

Sandra, agora passa a mão em meu cabelo,
é que quero me sentir acolhido
nesses últimos minutos
enquanto sonho que a gente toma sorvete na praça

É que o que vem por ai
não é tão bom.
-Sabe porque não é bom?
porque você fica e eu vou, Sandra,
a enfermeira quem me disse,
na verdade a ouvi falando com o médico
"está em coma profundo, foi uma pancada forte. Poucas chances"
Ela não sabe que eu ouvi,
assim como você não sabe que eu falo.

Mas Sandra, não pense que a culpa é sua
eu só queria te dar um abraço
porque fiquei surpreso
de te ver na calçada sozinha as nove horas da manhã.
Fique calma e não chore. Isso, não chore.

Ainda bem que você não sabia do amor
e só tinha por mim a ternura de eternidade
que trazem os amigos

Não Sandra, a culpa não foi sua
eu que não vi o carro
e deixei que a beleza do sol
tapasse as cores do farol.
foi tudo muito rápido
muito veloz, diferente do que te sinto.

Agora me abraça menina
e deixa seu cabelo preto cair em meu ombro
antes que eu vá
e você fique
Diz algo bonito, que me apaixone e seja gostoso
como aquela pipoca que comemos na semana passada.

Sandra, dizem que quando um que ama morre
vira uma estrela no céu,
por isso tem tantas estrelas o céu.
Nessa noite noite você olha pro céu
e me acha,
porque vou brilhar, Sandra
e será um brilho especial,
mais rosado


(e tudo termina com as lágrimas escorrendo pelos cílios)

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O sorriso de ontem

Na beira mar vi a lua.
E aquele corpo brilhava
como se todo desejo
e os prazeres do carnaval
em ti estivessem bordados.

Vi a lua e percebi
que o mar ama a praia
tal os pais aos filhos.
Porque ela estava alaranjada
e seu brilho era de mel
ou se não me falha a memória
de doce de caramelo

E naquela noite jovem,
que tinha os olhos
escuros de jabuticaba
e o cabelo desgrenhado na crista das ondas,
senti que o céu me abraçava as costas
e em minhas mãos se entrelaçavam as estrelas.
Como se todos os tempos fossem de sonho
e pelo lábio inferior
corressem beijos macios de plumas
ou travesseiros de algodão.

Em meu peito
gritava calmo o amor
entre o céu e o mar,
tudo meio malemolente
cheio de perdas e ganhos
a lembrar um conto de Cortázar que aprisiona
pelos sussurros expressados nas palavras.

Não sei o que se foi,
nem mesmo pretendo.
Porque hoje acordei
e na borra do meu café
existia um sinal de ternura

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Uma carta de amor

Digo que da luz
sai a lua
e da lua
sai seu
sorriso.
Que é como
o doce feito pelas avós,
cheios de açucares
e carinhos colando
em colheres de pau

Pela minha boca
saem agora,
as palavras
de quem ama
e deseja te dar flores,
mas se recusa
prendendo em algemas,
em furos no céu
e apertos nos olhos,
cantar uma serenata
(que seriam mais de escritas relidas
pois minha voz é dura e rouca
para o soneto e o canto dos pássaros),

E tendo tatuada toda essa
vergonha de quem
não faz da voz acorde ou aurora,
te mando uma carta.
Porque minha escrita
insiste em se despetalar.
Mandando as  rosadas pétalas
(qual seu lábio inferior)
pelos quatro cantos
dos silvos e ventos
que rodam o mundo
como moinho
ou o brilho estranho do mar noturno.

E te envio, pela voz do correio,
porque não tenho duvida que te amo:
amoras em formas de letras,
afagos em formas de beijos,
e as estrelas do céu
como cada verso
fincados em tinta nanquim
na folha desse poema.

domingo, 28 de outubro de 2012

Do ventre das putas

Escrevo um poema
sobre a morte e a América
sobre a ditadura das palavras
e a repressão da idade
(afinal nunca se julga quem
desconhece a idade dos vinte)

Faço um poema
porque não posso ser mãe
e meu ventre é de vento
como o voo das gaivotas
e a vida das putas

Faço um poema
e sei que uma casa abre a janela
para ver cair as estrelas do céu
e a missa proferida pelo sol.
Conto sobre a casa e o sol no meu poema

Faço, como bem se sabe,
de sexo e sêmen
as dores do meu poema
porque a dor inspira
e traz, tal ondas do mar
tudo que é amargo
e que seca o choro

Para o continente a história
ao meu poema o desejo
de ter tatuado na pele
a certeza de que o tempo traz a cegueira
como as mentiras vindas nas moedas

Moedas e medos
trazidos nos bicos dos seios,
escondidos nas folhas dos livros
na cara e cabelo dos filhos

Escrevo, afinal,
pois são de suor as lagrimas do mar
e de sonhos o suor que escorre
pela ternura roubada
entre as pernas
e o choro turvo
dos olhos pardos da América

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Dos efeitos da lua

1.
Quero do tempo
o céu azul
pincelado de auroras
desde os poemas e cedos
aos minguos recuados
da tarde caindo pelas mãos

Os tragos de sonhos
e lábios pintados
que carregam consigo
a paixão que cora
canta, cisma
e grada o céu dos apaixonados.
Sim. Quero tudo,
e essa é minha certeza

2.
Não tenho prantos
ou pratos de porcelana.
Só os desejos do mundo
atrás do medo
que tudo seja noturno,
como o fogo apagado

Que seque e cesse
a umidade brilhante da prata
no centro da tenda
sob a cor da terra
e o brilho dos olhos.


terça-feira, 16 de outubro de 2012

Poetagem

Essa linha não existe
enquanto correr o rio
enquanto a chuva umedecer
três lágrimas e
sabe quem um arrepio

Essa poesia é tormenta
é rasgo merda e face,
pouco, quase ou nada,
cada verso cada frase.

Essa poesia é a ultima do alfabeto
porque me cansei de abortos
a não quero novos fetos

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Coração

Coça de amor o coração
na sala de cinema
no café da manhã
e na casa.
Na cama
no quarto
e nas quadrilhas

Coça e coaxa
gritos de carnaval,
cada um e cada qual,
coça,
costura,
cachecol, cabeleira,
cafunés,
e confortos.
Cabides
e acácias na primavera

Coça e corre
como o passar dos meses
e os segundos dos séculos
os cartazes, cartas correios 
crochês
cochichos
e fofocas
(escondidas em baixo de cobertas)

Coça e questiona
quando
o que
como

E quando se pensa
que chega ao máximo
toda essa cardiologia,
cresce e continua a coser.
Como fosse o coração
um tecido
a receber pontos
de estrelas cadentes



sábado, 6 de outubro de 2012

Um tal Graciliano

O sertão é a quebra
o cárcere
e a seca.
É a pele rachada
pelas entranhas do sol
e os dedos doídos,
encravados ou disformes

é o nordeste nordestino intrinseco,
a morte disfarçada
no ciclo da incerteza.
O amor e o conhecimento
em bibliotecas empoeiradas,
que de tanto pó se escondem
na agonia de não existir

é a quina da terra
e a simplicidade dos ângulos
a glória esquecida entre
o mar e o amor
e é, e foi, e continua

Faz-se então na história
(que não se figura, porque de sangue
torturado pela força da escrita)
o habito de padecer do sofrimento
e o óbito de não ter infância.
Tal qual a linha disforme
ou a vida das moças,
das boiadas, dos retirantes,
dos que atiram e dos que sofrem-se do matar.

Como, e além, e acima de tudo:
a simplicidade e as lágrimas das lavadeiras
e Alagoas, que carecem de não-sonhar
coarando toda solidão posta pelo sol.

domingo, 30 de setembro de 2012

Do amor

Página de livro
abraço de ternura.
Meu coração é um poema
seu beijo a escritura.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Atrás do quadro negro

Benedita
tinha pintada
de preto
a tez que é a pele e os pelos,

Os olhos
na lua e as luas
de mel, como luares
estampadas
nos lençóis vermelhos
do lábios

E gostava de beijos
e abraços
carinhos
e os abracadabras
que tinha o dia-dia do mundo

Via magia
e via-se
nos espelhos
das ruas, nas quinas de si
nas canções e nos cantos
nas gelatinas e costuras
nos menores e nas maiúsculas

Em cotas
o cortejos
xotes forrós
valsas versos e outras
prosas
era Benedita, a menina,
(ainda que não)
a mais linda

Mas teve a noite sem silvos,
depois do passar veloz dos ponteiros
de silêncios descompassados,
aquelas que se confunde o som
do coração
com o dos estatelares dos passos...

Foi quando viu Benedita
que já era mulher
e um tanto sofrida
tendo a sina
de não ser cisne
mas sim uma coisa
pobre e podre
quase perto
dos buracos negros
de quem nasce
tinturado

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Feitio

Não importa o que se faça,
se corte de frio
fiapo ou descasco a faca.
Pois só o que fica
é o que passa

sábado, 22 de setembro de 2012

Poema violento

Amor é arma
sem rima nem mira
que dispara
tiro certeiro,
contido das incertezas,
e dos calibres.

Amor é a arma.
Amar é a bala
que atinge
de pronto e deserto as esguelhas
mas nunca erra.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Ode as plantas

São de flocos de amor
as pétalas das flores.
De felicidades
cores
cordéis
cordões e
corações bem amados
as fantasias colibri do pólen

São as cores:
os pingos de arco-íris
derretidos nas tardes quentes
que escorregam entre chuvas
e cílios de recém-nascidos

De minucias
e sementes sonhadas é
a vida das pessoas
e, ainda além,
a das flores

E melhor é:
o titilar do relógio
o acordar da manhã
e o canto dos canários.
Quando se é estampado
nos tecidos dos dias
as estampas primaveris

Maior é o amor
maior é o aroma
maior e a mais
a rosa;
quando em tarde arrebol
mistura seu cheiro
com a leveza do ar
e se pode confundir
se são os céus e os sons
sensações do mundo
ou relentos de calmaria
espalhados pela calçada.

Como o ipê
a desgarrar-se
de sua copa
nas tardes de outono


segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Aos escritores latino-americanos

Corre no ventre desta terra
um rubro vermelho de pranto
carregado em longos choros
que escorrem por veias torturadas

Mas que (ainda)
perdido entre janelas e labirintos
resiste sofrego
com brilho estrelado
sob os estalos de fogueira,
porque se nega
--como todos os fogos--
aos corrimentos
de ampulhetas e areia

Corre pois entre os pés da Patagônia
e os cachos colombianos
as histórias mais vividas
de fatos fantásticos
que a realidade tenta,
mas não imita

São,
se não seus
os tempos deveras ternos
desarranjos, fábulas
e os murmúrios
de canções desesperadas

E trazem também em tréguas
e entregas de amor
o ciciar dos sonos cansados
e regressos das calmarias oceânicas

É, sim, nos abraços partidos
e ternuras roubadas
que resiste cada verso
gravado no seio
do amuleto andino

Um amuleto estampado
com a rubi esperança
de ser leve como as borboletas
e livre qual os peixes dourados

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Das menores alegrias

se tudo é pequeno:
pingos, brilhos pirilampo
e os minutos são miúdos
(porque estão atrás das horas,
sempre assim,
no plano-relógio em segundo)

se sim; se não
senão, não sendo.
Haja o que houve
e volte amanhã
para o passado
de hoje

domingo, 2 de setembro de 2012

Sinal de eternidade

*a Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

Drummond
é de ti
ou do mundo
a sensibilidade clara dos cabelos brancos
e a calma dos óculos?

As pedras
    rosas
    semáforos
    jóias, Josés
    e Jotas (que nem deviam aparecer por aqui)
São de ti
do corpo
ou do mundo?

É a poesia uma etiqueta
colada na camisa do poeta,
na semântica das palavras?
-palavra de origem indefinida
não se sabe se dos longes de Itabira
ou de dádiva divina-.

É a vida, mira certeira
na rima metafísica
de servidor público
que, sentado em poltrona
boceja como padecendo
no brejo das almas?

Não sabemos Drummond
nem sequer os porquês
das perguntas sobre poesia,
nem mesmo o que ela pode
ou então
o que será:
se versos de relógios
ou lições de casa,
se um fazendeiro
um lutador
ou um aprendiz a contar
seus amores antigos

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Questão de conteúdo

E que se fosse
individuo serifado
nas liras antigas
das letras redondas
pelo luxo, apenas,
e não pelo que se necessita.

Que assim seja.

E faça do conteúdo
(o contexto que a contém)
questão de cansaço
escassez na vida
do que é menos
e do que mais, é vago.

Montando por arranjos,
conjuntos e
conjunções,
as ideias.
Que não sabem ser simples
muito menos belas,
mas ralas,
porém talhadas
como trabalho
feito por ferreiro
a forjar uma lâmina

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Acima do céu

Anabela não sabia
de meio em meio tom
como era
a vontade vistosa
de querer bem.

Anabela
era mais
que som
que si
luz e sol
música
flor, pétala e pipoca
caderno de desenho
rasura, giz de lousa.
Era mais e de sobra.
Ela, Anabela

Era doce de coco
com tez rosada e
cabelo cacheado
(solto em saltos
descalços nas esquinas).
E verde eram
os olhos
unhas e flores
no jardim de Anabela

E era livro
lombada
página
poema

Ah, Anabela.
Sussurrava suspiros
sinceros de sim
nas premissas do peito.
Nos calos
das tarde caladas.

Anabela.
Mas faltava
em ti
querer me bem

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Sobre a cegueira

E de repente
parou seca
como stop
de semáforo
silvo marrom de resguarda
placa larga
em via pública.

sinal fechado
pra poesia

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Timidez

Quis de tudo
do seu modo
De todo seu
o mundo

Sem usar sequer palavras
Só quiçá
sussurros mudos

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Sim

.
Ah Clarice
tentou dizer
o pouco dito
de pequenas premissas
em contos de coisas,
mas não disse.
Fez como se acaso
fosse contorno do avesso
e silêncio
silvo de fuga sem
fim, metade
      meio
      metonímia
ou começo.

Ah Clarice:
se somos
o que está sendo
--entrelinhas
de estrelas
ou laços mal feitos--.
Se o tempo
já é contra
as horas a que pertence
e a felicidade
mero devaneio trivial.

Resta apenas
(senão) esperar
pelo imprevisto:

A visão míope,
o mascar de chicletes,
as cores das rosas,
as cascas
de casas sem casais.
  Resta o resto
  tempo do pouco

Para que nem tudo
vire gema de ovo
e se esparrame
pelas cortinas
dessa vida
.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Minimamente

* a Helena Zelic - Autora de "Se mínimo" e do blog Tempos de Morangos

Hoje é dia de bem-me-quer
bem-me-quer,
saraus, rodas rabiscos e cirandinhas.
plagio poético
prosa roseada,
rosa proseada ou
Guimarães Rosa

Dia de lírios
buquês
         bocas
         bailados
         balaios
                 bailarinas
e miares de gato,

De ver letras
no sol
e estrelas no céu
De ler,
re-ler,
ler novamente,
até que a releitura
dessas alegrias
não seja suficiente
e sejam queridas outras tantas
por horas ademais.

Dia de pegar o livro novo
da poeta favorita.
E apreciar a língua
como quem
com filhos se delicia

E fingir ser poeta
para divagar com o pressagio
de ser tal a poeta que inspira

É, pois, tempo de sentir:
sentar em frente a janela
e apreciar os
versos de poetisa
que não faz a vida
em estrofes ou estorvos,
mas sim em poesia

domingo, 29 de julho de 2012

Tão ontem que menos amanhã

(E se agora tivesse
o encanto de antes
--ontem
anteontem--
sabe quem
talvez,
amanhã pudesse ser hoje)

terça-feira, 24 de julho de 2012

Caixinha de jóias


Fossem ainda
pelas bases do sobrado
os brincos de ouro e
as brincadeiras de casal
com nós que dão
novelos largos
em linhas mescladas
entrelaçando
na forma
das histórias de novela

Havia de ser,
mas não era.

Eram extintos
espaços vazios
os campos Elíseos
do peito,
juntados
não mais por
corpos ou copos
na mesa do café
ou pelos beijos
da ponta dos pés
seguindo ao fino
fio de cabelo.

Se ainda fosse noite
era capaz de se gostar,
mesmo que pouco.

Mas lembrou nas palavras
de avó, com
as lagrimas escorridas
caindo no rosto
por quinas
cílios e ciscos:
(enquanto ele
falava as folhas mortas)

Não há mal que nunca se acabe
nem bem que dure para sempre

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Amar amar amar

Quando que ouvi
no ar, meio solto:
"Amor é coisa desvairada
só sente quem louco"
discordei

e nem dei corda

Porque sei bem
que vivo, escrevo
grafo
e grifo
nos entrelaços
das estrelas
essa poesia
quase nunca rotineira

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Equação

a Eric Tada de Souza

Fosse eu
individuo matemático
faria como você
no raio de meus passos:
os calculos mais exatos
e me inspiraria
em grandes mestres dessa arte
(Pitágoras, Bernoulli
Laplace, Baskara e Descartes)

Traçaria em meu caminho
equações e ângulos
vértices, seriam tantos
 os traços mais diveros

Mas agora
sabe-se lá quem,
cada qual em seu quadrante
nas bissetrzes e
hi
-po
 - te
  - nu
   - sas
um dia eu digo
(em entrelinhas de poesia)
que por demais te admiro.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

carrinho de feira

Que gostosas se fazem
as letras
no desenrolar
das ondas
nas cantigas de roda
nos sonetos e prosas

Belas de desfilar
com-passos
tão pouco esguios
e avivar com flores
novas
o antes depois de visto

Mas que traz a tal
gramatica? Estampada nos
vestígios dos
tecidos daquele vestido,
No cheiro de feijão
e no beijo de inicio
se não
a poeira dos tempos
(ou a ternura dos laços
versos e lenços)

E por bem de se saber
--agora antes que amanhã--
que a poesia é
das frutas
não a batida
mas sim a
mais viva

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Menina de quebra

Cor de mar
estrela cadente
amarelinha,
molenga de amor
almanaque
mais que verdade
par de meia
(furada)

Metonímia
tanto por pedaço
de canto de quebra
quebra-cabeça
ou vaso quebrado

chuvisco no sol
arco-íris
folha seca
cisco no olho
risco, rascunho
rasura de texto.
Vestido amassado.
Beiço rosado
fino de pétala
por menores
e petecas

E se fosse mais
ainda sobrava tanto

terça-feira, 3 de julho de 2012

Engenharias


*a João Cabral de Melo Neto (1920-1999)

Pergunto-me João Cabral até que ponto
se nega de tal legitimidade
poesia não ser mais que estudo
e talento de tão menor a falsidade

Até onde se constrói
o sim sendo não
e poeta menos mestre
já que verdadeiro artesão

Que palavra seja matéria
de possível inteira obra
fio folha e navalha
entrelinhas toantes
arames e emaranhadas

Eis que novo te pergunto:
pode-se lapidar o que
na pedra surge lapidado?
formar diamante do grafite
ainda que o carbono ralo?

Pois que espero a mim
de gume e ponta de faca
completo acreditar contigo.
Sendo poesia técnica (e demasiado treino)
sabe quem um dia
total aprendo o ofício

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Acidente de trânsito

Estrela cadente
brilhante no céu
              passou rápido
               bateu na lua

e foi pro beleléu

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Poema metalinguístico

Dia desses
fiquei tão
só (-zinho
      -litário
      -ldado)

As palavras
- fato nunca antes
de todo demonstrado -
silenciaram no tempo:
no canto do olho
no ponteiro do relógio
feito dente do ciso
piscadela por cisco;

Não sendo o que foi para ser
mas sim o que não era,
sumiram-se os sonhos
em estrelas
quasares
cadentes, fios de lã
caixas de agulha, teares

e minhas poucas orquídeas
com pétalas rosadas
de quem sabe tal (vez) ser poeta
em remadas sem rumo
sozinhas secaram



quinta-feira, 21 de junho de 2012

domingo, 17 de junho de 2012

Festa Junina


Foi-se a noite tão bonita
Talvez a mais
dessa minha junina
vida.

Ainda lembro daqueles
            estralitos de biribinha
            (ou eram de pipoca?)
tilintando totais tamanicos
  sozinhos, nos escombros dos
   ouvidos.

Não bastasse esse amor
que junho tem de sobra
vi ao redor de mim
– dessa minha humilde sombra –
um punhado de amizades
       das mais distintas
(sempre entretanto lindas)
fazer uma roda
cantarolar e girar
como se a cidade fosse nossa
      e aquela estrela no meio da rua
      jamais parasse de brilhar

terça-feira, 12 de junho de 2012

Aqueles dois

De tudo que
        te sinto
cada qual arrepio
abajur    cala-frio
vem de longe
esse sentimento
que não
se vende,
já que só se vê
nesses nossos (abraços
                     coloridos
amarelos de aquarela).

Mas bem sei, somente que
o nosso amor destrambelhado
          de meias verdades
– pouco a pouco feitas inteiras 
desnuda de uma ternura
                                 fora da gramatica
                         mas de
 poética conjuntura
  

domingo, 10 de junho de 2012

Amado


De todas as cores
  e todos os santos.
a Bahia
radiante alegre
com seus capitães aquarelados
cor de praia e mar.
nunca faz de entristecer

Já que tem o homem
que ama
até mesmo
pelo nome.
       que jamais
há de rasurar
as entrelinhas
da terra
soteropolitana
quase albina
amarela escura
de acarajé
     cuscuz
          cadomblé

Pois bem se sabe
nessa sua vereda
varanda de carnaval:

 “o que vale é o amor.
O resto é tudo pinóia”

domingo, 3 de junho de 2012

Dores

Bandeirolas giram
sob a malemolência do
Capibaribe.
Uma estrela nova.
nova, de tal brilho moderna
lira, livre, libertina
surge
na manhã do Recife.

Mas não há saúde em demasia
no brilho de óculos engarrafados
nos olhos de boa miopia
nas mãos do poeta
nos dentes arquitetônicos
espaçados

Porque o coração
esqueceu o dom do amar
naquele espaço torácico
pneumônico
pneumo-torácico
        de andorinha
        batendo assas
        em cantarolar
   sozinha sozinha sozinha

São gotas de orvalho:
no átrio esquerdo
no bronquíolo direito
de completo a
triste dor umedecida
tobércula, no peito.

Mas quem sabe
 a dor de uma vida inteira
o amor que fitou Teresa
a carinho dado a preta Irene
O boi morto desesperado na enchente
a doença
o sonho presente.

             um dia há de ir embora
nas ondas
no ritmo dissoluto
em Pasárgada.
  na cinza das horas

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Ciranda

No mais tardar
                     atrás de alegrias:
cantos contos poemas e pomares.
Como borboleta
   no bater asas
como desmorrer de bebê nascido
             como se vivesse
o sonho da noite seguinte. E visse
   tudo sim,
ainda que não sendo

uma menina no parquinho
      – pititica dentro de vestido xadrez
      e chuquinha no cabelo 
vai brincando
 de como se imagina
ser feliz


  

terça-feira, 29 de maio de 2012

Minas

Terras montanhosas Gerais.
            espinhudas
feito pele adolescente.
    perfurada em trilho
de aluvião   mi-
                      li-
                         mé-  tricô

Chuvisco de ourives
de barroco, de ouro 
negro, de leite

Liberdade ainda que tardia

Uma rosa Drummondiana
      ou uma boiada Guimarânica.
E agora?


domingo, 27 de maio de 2012

Pronominal

Ser taquicárdico
      tagarela por muito
espasmo

Esguio
estilhaçado
relapso
pés ao chão
Livre

Cabelo preto leonino
cafuné
cafundó
cafuzo

Ser sim
não sendo

Pois ser
é negar o fim
não do que
é
mas do que há de vir

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Pássaros

Curioso que se diga
é amar
de tanto intenso,
inimaginável,
a tal menina:

(De sentir
feito passarinho novo
saltando do ninho:
sensação piquetitica
piquetucha
   piquenique
 
   criar asa
e virar gaivota petalada,
 assim tamanheza graúda.

tão grande que
  ancho,
     nunca nem bica
desbica e pia.)

Pois amor é estrupício tolo
    voo   esquálido
              esguio
         – sem traço   
que faz cacto soltar água
e compasso rasurar quadrado

Mas que vez em quando,
raro ao nunca,
bate à porta
bate o pé
bate no peito
e deixa o poeta envergonhado.
   De completo sem jeito.

A versejar na
poesia branca
quanto sem rima:
Tê amo

domingo, 20 de maio de 2012

Enquanto não houver justiça

*Aos torturados na ditadura militar brasileira (1964-1985)

Triste é ter na vida
uma dor sem elegância
          por querer de todo
  bem o mundo

Da senhora na janela,
   do menino com mochila
do camponês cansado
          e do herói
                 sem caráter

Triste é ter dor no peito
              nó na garganta
imbróglio carrancudo e
sentimento de carrasco

     Esta estrada sofrida
             salgada
sozinha nazista medieval
de choque em genitália
e grito desgraçado
                     feito arara

Triste é (ainda) querer bem
e ver em passos
             crianças
             calçadas
aquela velha tatuagem
trincada do passado

mas é de tanto triste
querer mudar essa nossa
   ditadura históri[c]a
sem ter um púlpito, um mero pingo
               de memória

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Chaplin

Era tudo mudo
a salinha
as pessoas
            o mundo

Mas no silêncio amanteigado,
um ruído se ouviu:
"crash crash crash"

Com a pipoca
  o cinema mudo
sumiu

domingo, 13 de maio de 2012

Florear

*Em homenagem a Vinícius de Morais

     À menina
semiótica
semi-rosa,
    com uma flor

À menina
(que chora,
               depois da guerra),
outra flor.
Despetalada
        descolorida
                  desiludida
     Hiroshima

Ao menino,
      mais uma flor:
Toquinho, Francisco,
Whisky e um tal
   Diamante nordestino.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

terça-feira, 1 de maio de 2012

1° de maio

Produto ralo:
Corre entre máquinas e galpões,
  repetindo
         procriando

Produto unido:
Sindicato, comitê
             revolução
             revolta
Partido

volta.

dia-dia:
mais trabalho
menos
poes       ia

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Aos tantos

*porque todo mundo tem seu momento sentimental

Chorar de amor
nessa vida pouca
é mais que escorrer
lágrimas pela fresta do olho
e soluçar com voz
      mouca

Chorar de amor
é descalejar o peito
pelejar o punho
 se sentir
      trejeito

São solavancos em sol
partituras em lá
poente repentes
tremores ternuras
              teares

Quem já chorou o amor
percebe que a vida é oposto da dor
Que amor é a sensação mais bonita,
     mesmo depois que passa
sua marca fi(n)ca.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Poetastro

Alberto queria ser poeta
Falar bonito
em ritmo jeitoso, 
venusto

Mas nem tudo é
   cor-
          -de-
-rosa
(infelizmente)
Alberto nasceu
em prosa

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Revelação

Numa tarde fascinante
decidi revelar:
O que estava
acabrunhado
(em



baixo)
do mar

domingo, 15 de abril de 2012

Tarde chuvosa

O pingo
(na chuva)
é o mundo
do céu à terra
um segundo
da razão
ao sentimento mais
PRO
FUN
DO
o pingo é o ponto
da chuva do poema
pronto